Ser Artista em 2025
- Felipe Ledier

- 12 de jul.
- 3 min de leitura
Reflexões Sobre Autoria, Propósito e Transformação Social

Os tempos são vertiginosos. Basta abrir qualquer rede social para ser bombardeado por imagens geradas por inteligência artificial — visualmente impecáveis, tecnicamente sedutoras, mas muitas vezes vazias de intenção. Como criador visual, designer gráfico e artista digital, venho sendo atravessado por uma série de inquietações: como ser autêntico nesse novo cenário? Como comunicar verdade por meio de ferramentas que automatizam forma, mas não carregam vivência?
Não tenho respostas prontas. O que tenho é uma vontade sincera de pensar com profundidade sobre o que significa ser artista — e designer — em um mundo saturado por imagens, acelerado por tecnologias e marcado por profundas crises sociais e ecológicas. Talvez meus projetos comerciais não mudem o mundo, mas meus projetos autorais podem, sim, provocar reflexão. E isso já é um começo.
Narrar é Resistir: O Artista como Agente de Sentido
Sempre acreditei que a estética está a serviço da intenção. Sem intenção, uma imagem é só uma superfície bonita — e não uma mensagem que toca, provoca ou transforma. O artista, como o designer, é um narrador visual. Ele traduz emoções em formas, conduz pensamentos por meio de cores, constrói pontes simbólicas entre mundos que ainda não se conhecem.
Me inquieta ainda não ter consolidado uma narrativa única que una todas as minhas bandeiras — inclusão, a causa LGBTQIA+, justiça social, sustentabilidade, luta contra os retrocessos e extremismo. Mas talvez o estilo pessoal nasça justamente desse encontro entre causa, intenção e prática. E talvez o primeiro passo seja não desistir da busca, mesmo quando o caminho parece nublado.
Comunidade, Empatia e Troca
A arte não acontece no vácuo. O reconhecimento não vem apenas da entrega estética, mas da troca com a comunidade. Tenho refletido sobre que tipo de escuta ativa posso desenvolver como criador: como entender o que minha audiência busca? Ela quer se educar, se emocionar, se entreter? Quais canais importam, que mensagens valem ser ecoadas?
Vivemos um tempo de transição intensa, onde ideias, regimes e narrativas entram em colapso. Períodos assim são férteis para o pensamento criativo — mas também são confusos, contraditórios e dolorosos. Acredito que o papel do artista nesse ciclo seja o de sustentar empatia, crítica e visão. De oferecer uma bússola simbólica num mar de dados e distrações.
Propósito, Técnica e Travas Criativas
Vou ser honesto: estou bloqueado. E não é por falta de ferramentas — é por falta de propósito. Um propósito que dê sentido ao esforço, à disciplina, à persistência. A tecnologia avança a passos largos, mas me parece que o discurso em torno dela é cada vez mais vazio. Recentemente, uma live sobre IA me causou um mal-estar tão profundo que precisei desligar tudo, tomar meus remédios e me calar.
Ainda assim, sigo curioso. Quero redesenhar meus processos, incorporar novas tecnologias, mas de forma consciente e alinhada à minha visão. Acredito que a IA possa contribuir como apoio: na pesquisa, nos esboços, na estruturação de ideias. Mas o direcionamento final — esse só pode vir da intuição e da intenção.
A Inteligência Artificial como Parceira Crítica
A inteligência artificial pode ser uma ferramenta extraordinária. Mas ela não substitui o olhar, a biografia, a sensibilidade de um criador humano real. O desafio está em aprender a dominá-la — e não ser dominado por ela. Me falta ainda domínio técnico de prompts, conhecimento sobre plataformas e recursos. Mas o desejo de explorar esse território é genuíno.
Minha meta? Criar um estilo que sobreviva à homogeneização algorítmica. Um traço reconhecível. Uma assinatura simbólica. Porque o mundo não precisa de mais imagens perfeitas — ele precisa de vozes autênticas, mesmo que imperfeitas. E isso, até hoje, só os humanos conseguem oferecer.
Conclusão: Criar com Intenção, Viver com Propósito
Não quero apenas fazer imagens bonitas. Quero desenvolver uma obra que una ética, estética e relevância. Quero encontrar — e sustentar — um propósito que dê sentido à minha prática, que me mova e que mova os outros. Ser artista hoje não é só dominar ferramentas: é cultivar visão, presença e responsabilidade social.
Se você também cria, também sente, também busca... deixo aqui um convite:
O que você quer sustentar no mundo com sua arte?




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