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Etarismo e Visibilidade Após os 40: Reengenharia de Percepção no Design Gráfico

Homem latino, por volta dos 40 anos, sentado no chão de um cômodo estreito com paredes altas em tons de azul e roxo desgastados e chão rosa. Ele veste camiseta amarela, calça azul e tênis brancos, com expressão contemplativa e levemente preocupada, olhando para cima. A iluminação cria um clima surreal e introspectivo, evocando sentimentos de isolamento e invisibilidade — uma representação visual dos efeitos do etarismo no mercado criativo.
Etarismo e design gráfico

A Sombra da Invisibilidade


O mercado de design gráfico, que por natureza celebra o novo e o disruptivo, muitas vezes se mostra cruel com aquilo que representa tempo, maturidade e profundidade. Profissionais experientes enfrentam um inimigo silencioso: o etarismo — preconceito baseado na idade — que mina oportunidades, corrói a autoestima e acentua o medo da irrelevância.


Neste artigo, compartilho dores que vão além de pixels e paletas: inseguranças, bloqueios criativos, crises de identidade profissional e o impacto de tecnologias emergentes como a inteligência artificial. Meu intuito é sensibilizar e acolher colegas que também vivem esse paradoxo: tanta bagagem, mas pouca visibilidade.


O Problema Invisível: Medos, Bloqueios e o Ciclo da Autossabotagem


Medo da irrelevância

Há uma angústia constante de que nossa essência criativa não é mais “vista”. A estética amadurecida, as ideias com mais camadas, muitas vezes perdem espaço para fórmulas rápidas e modismos virais.


Síndrome do impostor (acadêmica e profissional)

Mesmo com décadas de experiência, a sensação de inadequação se infiltra. O questionamento interno é cruel: Será que minha contribuição ainda tem valor? Ou pior: Será que algum dia teve?


Fragmentação identitária

A tensão entre o que nos move como artistas e o que o mercado exige como designers gera um esgarçamento emocional. Muitos, como eu, escondem suas paixões por medo de parecerem “fora do tom”.


A armadilha da atualização constante

A chegada de novas tecnologias, especialmente a inteligência artificial, acende o alerta do descompasso: Como acompanhar? Por onde começar? Será que ainda há tempo para reaprender tudo?


Etarismo: A Invisibilidade Sistêmica no Design


O preconceito etário, embora raramente declarado, é sentido em cada briefing ignorado, em cada processo seletivo sem retorno, em cada vaga que prioriza "perfil jovem e dinâmico".


Estatísticas revelam que 42% dos profissionais com mais de 50 anos sentem-se invisíveis em seus trabalhos (pesquisa Gen Seen Report 2024, realizada pela Australian Seniors e divulgada pela SmartCompany). A maturidade, erroneamente associada à inflexibilidade, torna-se um estigma. Internamente, muitos de nós incorporam esse rótulo e passam a duvidar da própria adaptabilidade.


Além disso, há o *descasamento idade-senioridade*: nem sempre nossa trajetória é linear ou reconhecida como evolução, o que nos coloca em um limbo de não pertencimento.


Reengenharia de Percepção: Estratégias de Superação


A solução começa com uma revolução interna: a Reengenharia de Percepção. Trata-se de um conjunto de ações práticas e simbólicas para resgatar nossa visibilidade e valor no ecossistema do design.


a) Reforço da autopercepção positiva

Precisamos redescobrir nossas forças: resiliência, capacidade crítica, repertório cultural e visual. Validações internas importam. Estéticas pessoais — mesmo as mais “não comerciais” — são potenciais ativos únicos.


b) Visibilidade intencional e autêntica

Mostrar o processo criativo (e não só o resultado final) gera empatia e engajamento. Ao transformar protótipos em conteúdo, criamos autoridade e criamos espaço para feedback construtivo.


c) Monetização da identidade autoral

Há espaço para marcas com alma, com estética emocional, com história. A vivência é diferencial competitivo. Se a estética for coerente com sua visão de mundo, ela é branding.


d) Conectar autenticidade à credibilidade

Portfólios podem mostrar mais do que peças visuais: podem contar histórias. Quando demonstramos como nossa linguagem visual resolve problemas concretos, dissolvemos o rótulo da “infantilização” ou do “vintage datado”.


e) Aprender, sim. Ceder, não.

Estudar novas ferramentas — como IA — não é abdicar do que somos, mas fortalecer o que oferecemos. Aprender é um ato de poder, não de rendição.


f) Redefinir sucesso

Medir nosso impacto em transformação — seja de processos, pessoas ou marcas — e não apenas em likes ou cliques. O reconhecimento começa dentro.


Tornar-se Visível é um Ato Político


Em tempos de sobrecarga de informações e estética pasteurizada, ser autêntico é revolucionário. Reposicionar nossa trajetória como diferencial, e não como peso, é parte da construção de um novo imaginário para o design.


Este texto não pretende ser um manual definitivo, mas um abraço e um convite. Para mim, foi um grito de liberdade. Que ele ressoe em você.


Se você se identificou com esse conteúdo, compartilhe com outros profissionais. Tornar o invisível visível começa pela conversa.


Referências


  • Levy, B. R. (2009). Stereotype embodiment: A psychosocial approach to aging. Current Directions in Psychological Science.

  • Organização Mundial da Saúde (OMS). Global report on ageism (2021).

  • Brown, Brené. A Coragem de Ser Imperfeito. Zahar, 2013.

  • Newport, Cal. Trabalho Focado. Rocco, 2016.

  • TED Talks e artigos do Medium sobre etarismo, design autoral e inteligência emocional no trabalho.

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