Raul Seixas: Uma Imersão no Universo do Maluco Beleza
- Felipe Ledier
- há 6 dias
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Entrar na exposição Baú do Raul foi como mergulhar em um universo paralelo, colorido, exagerado e, ao mesmo tempo, incrivelmente acolhedor. Cada sala tem um cuidado cenográfico que transforma a visita em uma verdadeira viagem sensorial. É como se cada detalhe tivesse sido pensado para nos transportar para dentro da mente criativa de Raul Seixas.
O que mais me tocou foram as instalações com objetos pessoais e manuscritos. Ver de perto roupas, anotações e instrumentos não é apenas um registro histórico — é quase um encontro íntimo com Raul. Há algo de mágico em perceber como um artista desse porte também é humano, com fragilidades, rascunhos, marcas de uma vida intensa e, ao mesmo tempo, profundamente poética.
Para mim, a exposição confirma aquilo que sempre senti: Raul Seixas foi muito mais que o “Maluco Beleza”. Ele foi um artista completo, um crítico social com irreverência afiada, um pensador que soube traduzir contradições em música, literatura e atitude. Caminhar por esses espaços me trouxe uma nostalgia doce, mas também a certeza de que sua obra continua viva e pulsante.
Raul Seixas, o Artista que Atravessa Gerações
A história de Raul é também a história da música brasileira que ousou ser diferente. De Salvador ao Rio, de Raulzito e os Panteras às parcerias explosivas com Paulo Coelho, ele criou clássicos que continuam sendo cantados por todas as gerações: Metamorfose Ambulante, Mosca na Sopa, Ouro de Tolo, Gita.
Raul não tinha medo de misturar rock com baião, filosofia com esoterismo, deboche com crítica social. Essa irreverência o colocou em choque com o sistema, incluindo a ditadura militar, que chegou a exilá-lo nos Estados Unidos. Mas nem mesmo a repressão conseguiu calar sua voz. Ele voltou, lançou discos que marcaram época e consolidou um legado que vai muito além da música.
A Experiência da Exposição
O Baú do Raul celebra os 80 anos que o cantor completaria em 2025 e reúne mais de 15 ambientes temáticos. O acervo é generoso: manuscritos, roupas, instrumentos, fotografias, registros raros. Tudo cedido por pessoas que fizeram parte da vida de Raul — Kika Seixas, Vivian Seixas e Sylvio Passos, fundador do fã-clube oficial.
Entre os destaques, está o Espaço Toca Raul, onde o público pode subir ao palco e interpretar sucessos do cantor, com direito à gravação da performance. É impossível não lembrar dos gritos de “Toca Raul!” que atravessaram décadas em shows Brasil afora — e que agora ganham um espaço físico para se materializar.
Além disso, a programação paralela dá fôlego à mostra: oficinas, concursos de sósias, quiz e até um projeto especial de remixes conduzido por Vivi Seixas e Paula Chalup, que traz as músicas de Raul para o presente sem perder sua essência.
Por que Raul Ainda Importa
Mais de trinta anos depois de sua morte, Raul continua sendo referência de liberdade, autenticidade e ousadia. Sociedade Alternativa poderia muito bem ter sido escrita ontem, de tão atual que soa. Sua arte ainda nos cutuca, nos provoca a pensar e, sobretudo, a sentir.
Saí da exposição com a sensação de que Raul Seixas é um espelho de nós mesmos: cheio de contradições, mas também de coragem. Um artista que nunca teve medo de errar, de experimentar e de se reinventar.
Se eu pudesse deixar um conselho para quem pretende visitar o Baú do Raul, seria este: vá de mente aberta. Deixe-se levar pela experiência imersiva, permita-se sentir e se emocionar. Porque, no fundo, revisitar Raul é revisitar o Brasil, com todas as suas belezas, contradições e loucuras.
Referências:
Exposição Baú do Raul — MIS Experience, São Paulo, 2025.
Linha do tempo da vida e obra de Raul Seixas (catálogo da exposição).
SEIXAS, Raul. As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor. São Paulo: 1983.
CARVALHO, Walter. Raul: O Início, o Fim e o Meio. Documentário, 2012.
Rolling Stone Brasil. Os 100 Maiores Discos da Música Brasileira. São Paulo: 2007.
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