O Desafio de 2026
- Felipe Ledier

- 7 de out.
- 3 min de leitura

2026 não é só mais um ano no calendário. É um ponto de inflexão — uma encruzilhada entre o Brasil que ainda acredita em democracia e o país que flerta com o abismo. As eleições vão muito além da escolha de um presidente: elas redesenharão o Congresso, os governos estaduais e, de quebra, colocarão três novos nomes no Supremo Tribunal Federal. Três! Um número suficiente para selar o destino institucional do país.
Se a extrema-direita vencer, o equilíbrio democrático deixa de ser um pilar — e passa a ser lembrança.
Mas o perigo não se limita às urnas. Ele se infiltra nas igrejas, nas redes, nas escolas. Há líderes religiosos que transformaram a fé em arma política. Tratam a eleição como cruzada espiritual. Em retiros militarizados, adolescentes são treinados para combater “inimigos de Deus”. Não é ficção — é projeto. E quando as pesquisas revelam o aumento da rejeição ao casamento homoafetivo, o sinal é claro: estamos perdendo a batalha simbólica.
A defesa das liberdades civis, da diversidade e da inclusão não é mais um ideal progressista. É uma questão de sobrevivência democrática.
Lá fora, o cenário não inspira alívio. A guerra na Ucrânia persiste, Gaza se transforma em ferida aberta, e populistas como Milei e Trump ressurgem das cinzas — cada um vendendo a mesma ilusão de um passado que nunca existiu.
Yuval Harari chamou isso de “a cortina de silício”: uma era em que a tecnologia, comandada por corporações e governos míopes, ameaça dividir o mundo entre os que programam e os que são programados.
No fundo, a pergunta é: quem escreve o código da nossa liberdade?
Aqui dentro, o jogo é outro — mas não menos cruel. A lógica do capital financeiro segue viva, mesmo quando mata. Bancos demitem em massa e celebram lucros recordes. As Big Techs pregam inovação, mas entregam precarização. E o discurso meritocrático vira anestésico social. Só uma agenda progressista sólida — com redistribuição de renda, fortalecimento do SUS, investimento em educação pública e ciência — pode oferecer saída real.
Defender a ciência, hoje, é defender a verdade. E defender a escola é preservar a capacidade de pensar — algo que regimes autoritários odeiam por instinto.
O planeta também dá sinais de exaustão. O aquecimento global não é mais metáfora: é diagnóstico. E o Brasil, dono da Amazônia e do último suspiro verde do planeta, carrega nas mãos a chance — ou o peso — de liderar uma agenda de justiça climática. A crença cega em crescimento infinito é a versão moderna da Torre de Babel: ambição sem propósito. Precisamos aprender a crescer com consciência, não contra o tempo.
E, claro, a liberdade de expressão — a joia mais frágil da democracia — cambaleia. Quando até o Pentágono impõe filtros à imprensa, é sinal de que a censura deixou de ser exceção. No Brasil, a farsa é outra: extremistas gritam por liberdade enquanto vendem desinformação.
Regular plataformas não é censura. É sanidade. A verdade não sobrevive em ambiente tóxico.
No fim, 2026 é escolha civilizatória. Avançar rumo à justiça social, à sustentabilidade e à diversidade, ou retroceder ao autoritarismo e ao colapso democrático. Não há destino fixo — há consequências. As crises que criamos ainda podem ser viradas de página, se houver vontade política, ética coletiva e consciência de espécie.
O que se decide em 2026 é se o Brasil vai continuar tentando ou finalmente desistir.
Se este texto provocou algo em você — compartilhe! Não para convencer, mas para lembrar: a democracia não se defende sozinha.




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