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Quando a Democracia Sangra, o Silêncio é Covardia

Homem em posição central segura uma faixa de tecido cru com a frase “EU NÃO ME CALO” escrita em letras pretas e fortes. A cena é escura e dramática, com feixe de luz vermelha iluminando o personagem contra um fundo institucional sombrio, evocando tensão e resistência política.

Sou designer gráfico. Minha profissão é trabalhar com linguagem, estética e percepção — e é por isso mesmo que me recuso a fingir neutralidade diante do que está acontecendo no Brasil. A forma como comunicamos o mundo define o mundo que construímos. E se existe algo que aprendi ao longo de mais de 30 anos de trajetória profissional e pessoal, é que design sem ética é só propaganda disfarçada.


Além disso, sou um homem gay. E não posso assistir calado ao avanço do autoritarismo que coloca em risco as poucas garantias que a comunidade LGBTQIA+ conquistou com suor, lágrimas e luto. Quando o ex-presidente da República é preso por crimes graves contra o Estado democrático e parte do país reage com fanatismo, complô e idolatria cega, não estamos diante de um simples debate político — estamos diante de uma ameaça direta à vida de pessoas como eu, como nós.


A recente declaração do presidente dos EUA, Donald Trump, criticando a prisão de Jair Bolsonaro, é um gesto inaceitável de interferência direta na soberania brasileira. Ainda mais grave: a aplicação da Lei Magnitsky contra o Ministro Alexandre de Moraes transforma um instrumento legítimo de direitos humanos em arma de guerra ideológica. Isso não é diplomacia — é chantagem política.


Enquanto isso, aqui dentro, governadores, deputados, pastores e influenciadores de extrema-direita seguem insuflando a desobediência institucional e legitimando a violência simbólica e concreta. Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, Nikolas Ferreira e Silas Malafaia não estão apenas exercendo opinião: estão atuando conscientemente para desestabilizar o país e proteger um projeto de poder autoritário, elitista e excludente.


Parte da grande mídia, por sua vez, prefere o conforto da “equidistância” editorial, como se fosse possível colocar na mesma balança quem defende as instituições e quem quer destruí-las de dentro para fora.


Criticar um ministro do STF não é crime — mas confundir isso com o direito de ignorar ou afrontar decisões judiciais é abrir as portas para o colapso democrático.

Não estamos discutindo ideologia. Estamos discutindo ética, justiça e sobrevivência coletiva. O Brasil não pode normalizar a sabotagem institucional, nem permitir que figuras públicas usem sua influência para proteger criminosos, atacar minorias e enfraquecer o pacto democrático que garante, ainda que imperfeitamente, o direito de todos existirem com dignidade.


Como profissional da comunicação, assumo minha responsabilidade pública de nomear o que está acontecendo. Como artista visual, denuncio a estética da manipulação que está sendo usada para anestesiar a consciência coletiva. E como parte da comunidade LGBTQIA+, rejeito qualquer governo, político ou figura pública que legitime discursos de ódio, violência religiosa ou retórica autoritária travestida de liberdade.


Silenciar agora é pactuar com a violência. Eu não me calo. E você?

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